Sobe, desce, direita, esquerda, pra frente, pra trás... Passada meia hora nesse balanço, a cor de Clarice variava entre o branco e o verde.
Havia cerca de vinte pessoas no barco. Davi, seu marido, dormia tranquilo ao seu lado, assim como as crianças encostadas na mulher à sua frente. Os demais faziam caretas e, vez ou outra, seguravam, com muito esforço, o café-da-manhã, que teimava em querer fugir boca afora. Aqueles que não conseguiam, encorajavam outros a se largarem também. Era saquinho daqui, papel-toalha dali...
Clarice quase se rendeu, sobretudo depois de perguntar ao marinheiro qual era duração da viagem.
- Duas horas, madame. Mas uma já foi! Só falta uma!
Deus do céu, por favor, permita que eu durma! – Clarice desejou com toda força. Então, o balanço do barco, além de embrulhar o estômago, começou a ninar a moça.
- Claclá, chegamos. – Davi interrompeu o sono de Clarice com um cafuné.
Clarice abriu os olhos, enxergou terra firme, respirou fundo e... ahhh, sorriu. Contemplou por um momento o lugar paradisíaco, agradecendo a si mesma por ter comprado passagens
aéreas para a volta e por não ter tomado café-da-manhã.