terça-feira, 26 de novembro de 2013

O sonho


Nas ideias da moça, teria menina
Outro palpite não lhe acenava
Papel principal, em seus textos, porém,
Era menino que ocupava.

Observação da professora
Misto de sensibilidade e sutileza
Interrogação mais que bem-vinda
Deu um fim a toda aquela certeza.

Em conversa de intuição, dispersa,
A moça repetia a intenção antiga
Mas resposta imprecisa não satisfaz
Curiosidade de melhor amiga.

A observação da professora veio à tona
E, tomada por um entusiasmo de arrepiar,
Disse, a amiga, que havia sonhado
Com o menino que estava para chegar!

Trazia-o pela mão a bisa paterna,
Revelando que a moça já percebia
A presença do filho tão desejado
Nas histórias que escrevia.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Baleia

Poema inspirado no conto Baleia de Graciliano Ramos


Na pior noite da vida nossa
O Pai encarnou o Capeta
Um aperreio, uma aflição
Duas olheiras violeta
Quando notamos sua intenção
A coisa já estava preta.

A Baleia corria perigo
Mas como podia ser?
Era pessoa da família
Por que havia de morrer?
Já nos dera tanta alegria
Tinha direito de adoecer!

Pra camarinha fomos rebocados
Pela Mãe, de coração pesado
Queria nos poupar do sofrimento
De assistir a crueza ali do lado
Ela aceitara a decisão do Pai
Mas partilhava nosso grito chorado:

Vão bulir com a Baleia?
Ora, faça isso não!
Coitadinha da Baleia!
Um 'cadim' de compaixão!
Pobre da cachorra Baleia!
Sacrifício não é solução!

Apesar de nossos protestos
O Pai atirou nos quartos da bicha
Que fugiu lá pros juazeiros
Se arrastando feito lagartixa
Não satisfeito, ele 'inda foi atrás
Pra acabar de vez com a rixa.

Nunca mais vimos Baleia
Nem falamos sobre ela
Pois o Pai, depois daquilo
Virou poço de querelas
É, de nós, quem mais padece
Com saudade da cadela.