Sobre o vilarejo de Sotavento estacionou uma nuvem há vinte anos. Desde então, chove sem cessar por ali. No lugar da praça fez-se lagoa. Começou com a chegada de uma frente fria com sotaque francês. Esmeralda tinha olhos de mar e madeixas de calmaria que, no primeiro contato com Éole, encheram-se de ondas ferozes. A cabeça virou-se em ressaca pelos cálidos sopros do forasteiro. No entanto, quando ele partiu sem aviso e o marasmo de antes voltou, Esmeralda já tinha vício pela ventania. De quentura e saudade, ela chorou. Foi a última vez que se viram moça e praça. Dali em diante, só nuvem, lagoa e um calor dos infernos.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Pães de Açúcar
Bom dia! Olá,
como vai? Bom dia! Oi! Tudo bem? Tudo azul.
Onde quer que eu olhe. Pela manhã, as ruas de Laranjeiras se enchem de crianças
a caminho da escola. Umas a pé, outras de carrinho, algumas na cadeirinha da
bicicleta. Alguém disse certa vez que começar o dia topando com uma criança é
bom sinal. Que dirá com várias?! Mas o que tem me deixado enternecida é perceber quem as acompanha. As vozes que me cumprimentam são
graves e o tamanho dos sorrisos denuncia o orgulho de ser pai.
Foi noutro dia que me dei conta disso. Encontro muito mais
pais do que mães quando deixo meu filho na escola. Constatação sem o menor tom
de crítica. Gosto de ver o jeito com que eles lidam com a situação. Têm uma
delicadeza arbitrária, diferente daquela que se espera das mães. No meu trajeto,
o trecho da Paissandu é o mais fértil.
Rua de palmeiras imperiais que liga Laranjeiras à Praia do
Flamengo, a tradicional Paissandu tem um nome de origem controversa. Das versões
que li, nenhuma me parece tão interessante quanto a que ouvi da boca de um
menino. Vinha no colo do pai, que andava a passos largos, quase correndo, com a
bolsa tiracolo entupida e entreaberta. Uma toalha ameaçava cair. Sem outro meio
de ajudar, o pequeno anunciava: pai
passandu, pai passandu, paissandu, paissanduuuu!!! Definitivamente, Paissandu
é rua de pais passando. Dei licença.
A proliferação de “pães” tem atingido níveis surpreendentes
no Rio de Janeiro. Doce perspectiva. Que os índices permaneçam em alta! Por
isso, quando percebo o tamanho da paixão do meu filho pelo pai, engulo a seco o
ciúme que tenta se achegar. É preciso dar licença aos Pães de Açúcar.
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