quinta-feira, 1 de março de 2018

Epifania



Sapato, sem par ou pudor,
procurava por uma poça pra pisotear

Parou, reticente, rente à relva reluzente
recém regada e enrubesceu

Resistiu extasiado ao experimentar a eclosão
do embrião de uma embriaguez emocional

Em vez de destruir, debutou, num devir
uma dança débil diante da dádiva

Durante o adágio, agarrou, afanou, afagou
e se afogou: amou do âmago da alma

Animou-se passivo e apaixonado ao pensar
no seu potente par a penetrá-lo

Mais que pisotear, percebeu que precisava ele
do pisão bem dado de um pé pesado

Improvisou na imaginação, inventou imagens incríveis,
idealizando a introdução do intruso em si

Que oba-oba, olê-olá, onda oblíqua, obra profícua,
oásis ao som do oboé! Ó, oco obscuro!

Ode ao pé!
Sapato omófago
Fome
Fogo novo
Pôs um ovo!