Sapato,
sem par ou pudor,
procurava
por uma poça pra pisotear
Parou,
reticente, rente à relva reluzente
recém
regada e enrubesceu
Resistiu
extasiado ao experimentar a eclosão
do
embrião de uma embriaguez emocional
Em
vez de destruir, debutou, num devir
uma
dança débil diante da dádiva
Durante
o adágio, agarrou, afanou, afagou
e
se afogou: amou do âmago da alma
Animou-se
passivo e apaixonado ao pensar
no
seu potente par a penetrá-lo
Mais
que pisotear, percebeu que precisava ele
do
pisão bem dado de um pé pesado
Improvisou
na imaginação, inventou imagens incríveis,
idealizando
a introdução do intruso em si
Que
oba-oba, olê-olá, onda oblíqua, obra profícua,
oásis
ao som do oboé! Ó, oco obscuro!
Ode
ao pé!
Sapato
omófago
Fome
Fogo
novo
Pôs
um ovo!