domingo, 7 de abril de 2013

Águas de março


Luz apagada. - Deitados no chão, fechem os olhos e relaxem. Deixem vir à mente as mais belas paisagens... Era assim que começavam as minhas viagens na seção de relaxamento das aulas de teatro do segundo grau. Foram poucas e, claro, participei porque eram obrigatórias. Mas dessa parte das aulas eu gostava bastante, pois podia praticar, com certa liberdade, meu passatempo favorito: imaginar.

Digo "certa liberdade" porque a professora costumava quebrar a fluidez de nossos pensamentos com frases do tipo: - Agora você está diante de um lago. E, mesmo que você não tivesse a menor intenção de meter um lago na sua paisagem, ele surgia ali, na hora, tão intrometido quanto a voz que o havia anunciado.

Dei o exemplo do lago porque é o que vem primeiro à cabeça quando me lembro dessas aulas. Não tenho nada contra os lagos. Muito pelo contrário. Minhas paisagens eram cheias deles. Variavam entre mares, rios, lagos e lagoas, que às vezes se misturavam, sempre debaixo de um sol ameno.

No final da terapia da imaginação, a professora perguntava como tínhamos idealizado as imagens introduzidas por ela. - Como era o seu lago? E cada um revelava um pouco de sua personalidade, sem perceber, através das respostas.

Como era o meu lago? Cristalino e profundo. Transparente e complexo. Tipicamente pisciano.

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