"- João?
- Hm?
- Você tá dormindo?
- N-n-não.
- Quê que é conversê?
(...)
-João?
-Hm.
- Quê que é 'fiada'?
- Sei lá, Zeca.
- É que a vizinha falou pra mãe que alguma coisa era conversa fiada.
- Ah, é a mesma coisa que papo furado.
- Tem nada a ver com fio, não?
- ?
- É que a vó disse que antes os telefones tinham fio.
- ?
- Eu achei que conversa fiada era conversa antiga pelo telefone.
- Chega de conversê, vamos dormir."
Ah, a hora de dormir! Que momento tão bom pra jogar conversa fora, não? O Gui adora puxar assunto assim que apago a luz e peço a ele pra fechar os olhos pra dormir. E, quando eu penso que ele embarcou no sono, lá vem uma pergunta de dar nó nas ideias. "Caramba, de onde ele tirou essa agora?" Algumas vezes, levo um tempo pra me situar e responder. Outras, ele precisa me chamar de novo, porque, bem diferente dele, caio no sono fácil, fácil.
Deve ser por isso que ele se identificou tanto com o Zeca, quando lemos "Conversê", do Luiz Raul Machado, ilustrado pela Marilda Castanha, publicado pela Galerinha, do Grupo Record. Quando me deparei com esse livro lá no salão da FNLIJ, achei o máximo e o trouxe pra nossa coleção. Não só pelo texto cheio de humor e brincadeiras com o Português do Luiz Raul, mas também pelo belo trabalho de projeto gráfico + ilustrações da Marilda Castanha. No entanto, eu não esperava que ele fosse fazer o Gui rir tanto. Cada vez que o Zeca chamava o irmão mais velho: "João?" era mais um "KKKKKKKKK". O maior barato!
Ontem a hora de dormir foi assim. Cheia de conversê. O livro foi lido duas vezes seguidas. Fora o conversê de sempre que veio depois.
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