segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Leituras Peraltas: Meu grande amigo imaginário

 Amigos imaginários podem aparecer de várias maneiras. Agora na quarentena, então, a situação está para eles.

O último vídeo do ano do canal Leituras Peraltas já está no ar e o tema é esse aí: amigos imaginários. Marilia Pirillo e André Neves são os autores dos livros que inspiraram a peraltice dessa vez.

Passa lá! 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Leituras Peraltas: O sonho é vencer os medos

 

Dormir é tão gostoso... Por que será que as crianças lutam tanto contra o sono?

Hoje é dia de vídeo novo no canal Leituras Peraltas e nesse eu mostro uma brincadeira que fiz com o Gui, na qual o sono venceu a batalha (com uma ajudinha do sonho e da literatura), mas todos nos sentimos vitoriosos!

Os livros inspiradores dessa vez são dois: "A princesinha medrosa" (Ed. Jujuba), do Odilon Moraes, e "Um coelho" (Ed. Aletria), da Anabella López.

Passa lá no canal e depois me conta o que você achou?

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Leituras Peraltas: Festejando com as lendas

Olá, pessoal! Hoje tem novo vídeo no canal Leituras Peraltas. É o segundo sobre folclore. Falo de um livro que Gui adora (escrito pelo trio Andrea Viviana Taubman, Marcelo Pellegrino e Thiago Taubman Costa), que foi a cereja do bolo de seis anos dele. Isso mesmo! Acessem: https://youtu.be/a_m21hdrhyI. Espero vocês lá!

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Marcelo, Marmelo, Martelo

Noutro dia Gui e eu lemos o “Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias” (Ed. Salamandra), da Ruth Rocha, ilustrado pelo Adalberto Cornavaca. Ele estranhou um pouco. “Mamãe, o desenho não era esse!”

A impressão dele foi a minha quando lemos a edição nova, que também temos, há algum tempo. Mesma editora, mas ilustrado pela Mariana Massarani. A ilustração não era aquela.

Acontece que esse livro me tocou demais quando eu tinha a idade do Gui. Meu irmão e eu éramos fãs do Marcelo, da Gabriela e do Caloca, protagonistas dos três contos do livro, com ilustrações só em laranja e preto. E quando isso acontece, é como ouvir uma versão de uma música que você ama. Não dá pra adaptar. Você quer o mais próximo possível da versão original. É lembrança com alta carga afetiva. Não há concorrência possível.

Mariana Massarani, sabiamente, fez ilustras totalmente diferentes na nova edição. Para novos leitores, ilustras que nada lembram o que era a edição anterior. Caso contrário, seria apenas o arremedo de algo insubstituível, que mexe com o imaginário de milhares de pessoas hoje. Ponto pra ela!

“Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias” era dos meus preferidos quando criança, acredito que do meu irmão caçula também. No início da faculdade de design, ousei fazer como projeto a programação visual de uma agenda, baseada nas ilustras desse livro. Está no meu portfólio.

A grandeza de um artista reside também na noção de seus limites. Eu (na maior parte das vezes) posso comprar a edição antiga de um livro na Estante Virtual e me emocionar lendo o volume, enquanto aprecio as ilustras, mas meu irmão caçula não está mais entre nós pra emitir suas opiniões, gargalhar com a história. Ele está nos meus pensamentos. E quando me deparo com algo que não era só meu, mas nosso, eu choro. Volto a ser criança, sem ele. E nada, ou qualquer nova edição, é capaz de reproduzir essa emoção.

Que a arte se propague e que os afetos se perpetuem!

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

60 contos diminutos

"Bateu a porta do quarto com força e riscou a frase com raiva sobre o papel.
ODEIO MINHA MÃE
Ficou olhando as letras com os olhos semicerrados, a respiração pesada.
Se jogou na cama soltando um resmungo. Amassou o papel com violência e enfiou num canto da cama debaixo do colchão. Ficou olhando pro teto sentindo o ódio arder por dentro até explodir numa lágrima que molhou o travesseiro. Ficou ali imóvel, o corpo tenso enquanto ouvia o pai e a mãe conversando baixo e se preparando para dormir. A luz do corredor apagou. Silêncio total.
Como ela consegue?!
Fritou na cama por muito tempo. O pensamento agitado, as frases de revolta gritando lá dentro. Precisava beber água! No caminho da cozinha parou em frente à porta do quarto de casal. A mãe dormia tranquilamente ao lado do pai.
Se aproximou silenciosamente dela e ficou em pé ao seu lado observando seu sono.
Como ela consegue?!
Então, como um lagarto, se enfiou lentamente debaixo do braço da mãe e adormeceu."

Gente, esse miniconto acaba comigo. Choro horrores! Não é lindo? Aliás, esse livro é uma pérola, um juvenil que eu amo e indico sempre. Pra rir, chorar e se apaixonar.

"60 contos diminutos" (Ed. Gaivota), da Marília Pirillo, é uma obra de pequenos textos do cotidiano, na forma simulada de um simpático moleskine, todo escrito e desenhado com esferográfica azul, como um caderno de adolescente.

Quando o li pela primeira vez, comentei à beça com minhas amigas do curso de literatura. O mais interessante foi que cada uma tinha um predileto diferente. O que não me surpreende, porque o livro é todo uma delícia.

Ontem peguei "60 contos diminutos" pra ler de novo. Como estou em outra fase da minha vida, outras partes do livro me afetaram. Um deleite. O que é realmente bom não perde a graça.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

A olimpíada dos bichos



"Uma fila gigantesca de bichos cortava a floresta.
A bicharada estava em polvorosa.Foi quando a capivara, que tinha ido passar alguns dias fora, se aproximou curiosa:
- O que está havendo aqui? - perguntou para a anta.- A senhora não está sabendo? A onça resolveu promover a olimpíada dos bichos e quer premiar os que participarem. O que corre mais rápido, o mais forte e o melhor nadador.
A capivara, que não tinha grandes amizades com a onça, resmungou:
- Que bobagem! Essa aí vive querendo aparecer, se achando a mais sabida aqui da floresta.
- Bobagem nada... A senhora por um acaso sabe qual será o prêmio? - retrucou a anta."

Ontem um dos livro que lemos antes de dormir foi "A olimpíada dos bichos e outros contos animais" (Ed. Bambolê), de Silvia Flauzino e André Flauzino, composto por três divertidas fábulas em que texto, ilustração e projeto gráfico se encontram em total sintonia. Para crianças da idade do meu pequeno é perfeito. Fala de amizade, solidariedade, da relevância de participar das coisas e se manter bem informado e ainda... de PUM!

Gui não lembrava que já tínhamos lido esse livro há uns anos. Mas essa vez foi a que ele mais aproveitou. Ficou atento do início ao fim e curtiu tanto os contos, que se indignou, comentando que podiam ser mais de três. Assim que é bom. Quando deixa gostinho de "quero mais".

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

As patas da vaca

 


"1 vaca tem 4 patas.
1 pata tem 2 pés.
Se 1 vaca tem 4 patas
E 1 pata tem 2 pés,
1 vaca com 4 patas
caminha com 8 pés.
Quando a vaca dá o leite
as patas viram leiteiras."

Ontem a aula virtual do Gui terminou com um desafio. Todas as crianças teriam que pesquisar, com a ajuda dos pais, e escolher uma charada para apresentar na aula de hoje.

No café da manhã, conversando sobre isso, começamos a pensar em adivinhas. "O que é o que é..." Então veio a lembrança de um livro mucho louco.

"As patas da vaca" (Global Editora) de Bartolomeu Campos de Queirós, ilustrado por Walter Ono, fala de um bicho feito de vaca e pata, abusando de catacreses, expressões, rimas, aglutinações malucas e fazendo uso de uma lógica infantil, sem limites.

Quando li esse livro com o Gui, ele gargalhou e disse "nossa, não tô entendendo nada!" É tão doido que até adulto se enrola. Para embarcar nessa viagem, é preciso abrir a cabeça e soltar os pensamentos. Muitas charadas exigem isso da gente também.

"O que é o que é: tem asa, mas não voa, tem bico mas não é pássaro, dá leite e não é vaca?" Essa é a charada do Gui para hoje. A pata virou pássaro na adivinha dele. Vale tudo! Afinal, "quatro patas da vaca são quatro patos, no boi?"

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

De carta em carta



“- Bom dia, seu Miguel. Quanto custa escrever uma carta?
(...)
- Para menino da sua idade eu não cobro nada. Mas tem uma coisa: você tem que ir à escola um dia e vir me contar como é, porque eu tenho muita vontade de saber... Esse vai ser o seu pagamento.
(...)
- Então escreva aí: VOCÊ ESTÁ TÃO CHATO...
(...)
- Só isso?
- Não, tem mais. Agora escreva: VÁ PARA O INFERNO!
(...)
O homem fez o que o menino estava mandando e entregou o bilhete a ele, achando que era para algum amiguinho. (...)“

Quem ouve o Gui brincando com meu pai, acha que são dois amigos da mesma idade. Eles fazem bagunça, muito barulho e brigam um bocado também. Como crianças. Ficam de bico um para o outro, mas pouco tempo depois parece que nada aconteceu. É muito amor.

“De carta em carta” (Ed. Salamandra), da Ana Maria Machado, ilustrado pelo Nelson Cruz, fala da relação entre Pepe (o neto) e José (o avô) de um jeito sensível, engraçado e em alguns momentos até tenso. Ler esse livro para um neto apaixonado pelo avô é sucesso certo.

Pepe é um menino que não gosta de ir para a escola e não sabe ler nem escrever. Por isso, dita para um escrevedor uma carta desaforada para entregar a seu avô analfabeto, que pede ao mesmo homem para ler a carta do neto. Mas, com a brilhante ajuda desse anjo escrevedor, as coisas entre neto e avô se acertam e Pepe ainda percebe a importância de saber ler e escrever na vida. Acaba se inspirando para escolher sua profissão e ajudar pessoas como seu José. É uma bela história.

Atualmente o Gui também pede todos os dias para matar aula. “Detesto as aulas virtuais, mamãe! Eu gosto das aulas de vida real!” Apesar disso, ele já é capaz de ler e escrever. E se fosse fazer uma cartinha para o vovô, seria de palavras doces e corações.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Leituras Peraltas: O folclore sob investigação

Hoje tem vídeo novo lá no canal Leituras Peraltas, pessoal! O assunto da vez é folclore brasileiro e o livro apresentado é da dupla Alex Gomes e Cris Alhadeff. Se ainda não se inscreveram no canal, inscrevam-se, curtam, comentem, compartilhem. Bora trocar ideias sobre Literatura Infantil e Juvenil?

domingo, 16 de agosto de 2020

Calma, Vítor Hugo!


"O que será a pior coisa numa sala de espera? A própria espera ou o que vem depois? Enquanto o tempo passa, passa também tanta coisa pela nossa cabeça... Ih, rapaz, o cara lá no consultório parece que desmaiou, nem se mexe mais: sou muito novo pra ver cenas chocantes! Vai ver o doutor Pereira tá tirando todos os dentes da pobre criatura. Ai, meu Deus, será que em vez dos dentes ele tirou o cérebro do cara? Será que Pereira é o codinome de um doutor sinistro, tipo doutor Frankenstein? Será que esse consultório de dentista não passa de uma fachada pras experiências monstruosas de um cientista louco? Será que eu não devia dar no pé agora mesmo?!?"

Ontem Guigui disse tchau pra mais um dente de leite e aumentou a janelinha. Então, para a hora da leitura, "Calma, Vítor Hugo!" (Ed. Mundo Mirim), da Flavia Savary, ilustrado pelo Rubens Filho, caiu como uma luva. 

O texto mistura as fantasias do menino, que se amarra em filmes de terror, com seus medos, sobretudo o de dentista. De quebra, ainda mostra que pode ser bem bacana brincar com as palavras através de um jogo que a princípio parece antiquado para o protagonista: palavras cruzadas.

As ilustrações escuras e macabras trazem o terror para a história do garoto, que está na sala de espera, deixando de bom grado todos os demais pacientes tomarem sua vez. "(...) pode passar o mundo inteiro na minha frente. Sem problema!"

Meu pequeno, que também curte um terror, mas nunca teve medo de dentista e tem sido extremamente corajoso para arrancar os dentes moles, achou graça nas viagens do Vítor Hugo. "Mas como ele ainda não sabia que dentista é legal, mamãe?" Foi dormir tão orgulhoso que até se esqueceu da visita da fada do dente. Mas deixa estar. De hoje não passa. O dentinho já está embaixo do travesseiro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Quindim de agosto

 

Eba! O Clube Quindim mandou dois livros bem legais para o Gui no mês de agosto. Confesso que estava um tanto frustrada com essa assinatura, porque desde o início, em junho, não tínhamos recebido nenhum livro brasileiro num total de quatro. Eu esperava pelo menos a proporção de três brasileiros pra um estrangeiro. Quase cancelei, mas depois da última entrega, resolvi ficar mais um pouco.

O Quindim de agosto foi uma gostosura. Teve "Greg: o menino que morava em um trem" (Editora Tigrito), da Ana Luiza Badaró, ilustrado pelo Odilon Moraes, e "O livro maluco das poções mágicas" (Editora do Brasil), do Leo Cunha, ilustrado pela Mariana Massarani.

"Greg morava em um trem com seu pai e sua mãe. O trem subia colinas e descia morros em dias de chuva e de sol. Um dia, os pais de Greg decidiram não morar mais no mesmo vagão. O trem entrou em um túnel..."

Lemos os dois livros ontem à noite. O do Greg é uma viagem em muitos sentidos. Fala de separações, frustrações e reviravoltas, tudo com texto e imagem em total sintonia. Gerou longa conversa com meu pequeno. Parabéns à Editora Tigrito pela belíssima edição. Acompanhamos os altos e baixos da vida do menino com o coração apertado e sentimos com ele o alívio e a alegria dos reencontros.

Depois do final feliz do Greg, mergulhamos de cabeça no livro encontrado num baú por uma princesa, que não era bem princesa, e descobrimos várias poções mágicas. Os trocadilhos do Leo Cunha combinados com as ilustras da Mariana Massarani são diversão garantida. Mas, sem dúvida, a melhor de todas as poções foi o "suco de pirlimpimPUM", que "deixa os puns cheirosos e musicais"!!! Dá pra imaginar o quanto isso rendeu, né?

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Sete ossos e uma maldição


"Fabiojunio olhava os preparativos meio assustado. Mas as fotos dos irmãos cercados de conforto, carinho e comida já o tinham convencido. Tanto Tião quanto Francineide e Ronivon pareciam muito felizes. Assim, quando chegou o casal, despediu-se da mãe e de Simara - a irmã mais velha -, engoliu o choro e entrou no carro de seus novos pais.
- Mãe, a senhora não achou esses dois aí meio esquisitos, não? - perguntou a menina, assim que o carro sumiu na estrada.
- Bobagem, menina. Rico é tudo esquisito mesmo.
Mas, no fundo, achou que a filha tinha razão. Não sabia dizer direito o que era - se a expressão meio vazia do casal, o jeito que eles tinham de olhar, meio fixo, sempre para frente, a maneira de se moverem, lenta demais."

Conheci "Sete ossos e uma maldição", da Rosa Amanda Strausz, com ilustrações e projeto gráfico do Ricardo Cunha Lima, publicado pela Global, numa conversa sobre literatura infantil na Fundação Casa de Rui Barbosa. Rosa Amanda leu o início do primeiro conto do livro, "Crianças à venda. Tratar aqui.", e criou uma bela polêmica falando sobre a história. Uma senhora que assistia ao bate-papo se levantou indignada e disse que era um absurdo a autora brincar com um assunto sério como aquele.

Com um invejável jogo de cintura e todo respeito à dor daquela senhora, Rosa Amanda respondeu que literatura é isso. Mexe com nossos afetos. Ela estava satisfeita por ter conseguido despertar tanta emoção com a leitura de pequena parte do conto. Os assuntos sérios devem ser abordados pra que possamos lidar melhor com eles na vida. Foi ótima a fala dela.

De terror eu nunca fui fã. Parece que esse livro nasceu de uma vontade súbita que tomou a autora durante um período de sua vida, pelo que ela disse. Talvez eu não tivesse nem cogitado ler "Sete ossos e uma maldição" se não assistisse a essa mesa. Mas saí de lá querendo saber o resto do conto começado e, assim que pus as mãos num exemplar, li de cabo a rabo, quase sem piscar. Engoli meu medo do terror (sobretudo envolvendo crianças) e a-do-rei o livro.

O primeiro conto é o melhor, na minha opinião. Mas me arrepiam todos os outros também. Tem assombração, mistério, adolescentes destemidos, objetos amaldiçoados. Histórias macabras que atraem muitos jovens e adultos. Crianças também!

Guilherme olhou a quarta capa enquanto eu relia ontem e gritou: "Tem uma caveira assustadora no seu livro, mamãe! Quero ler esse!" Entrei em apuros. "Sete ossos e uma maldição" é juvenil. Eu não indicaria para uma criança de 6 anos. Mas com uma boa mediação, a gente adapta. Li pra ele o conto "Os três cachorros do senhor Heitor". Ele AMOU e pediu bis.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Leituras Peraltas: Quero ser super-herói


É dia de novo vídeo no canal Leituras Peraltas. O tema agora é "super-heróis". Qual terá sido nossa peraltice dessa vez? Baseada na leitura de que livro? Assistam ao vídeo e confiram. Se curtirem, comentem, compartilhem e se inscrevam no canal pra acompanhar. Eu me diverti um bocado fazendo esse vídeo. Espero que vocês gostem!

domingo, 2 de agosto de 2020

Será o Benedito!


"(...) Então ele me pediu que o levasse comigo para a enorme cidade. Lembrei-lhe os pais, não se amolou; lembrei-lhe as brincadeiras livres da roça, não se amolou; lembrei-lhe a tuberculose, ficou muito sério. Ele que reparasse, era forte mas magrinho e a tuberculose se metia principalmente com os meninos magrinhos. Ele precisava ficar no campo, que assim a tuberculose não o mataria. Benedito pensou, pensou. Murmurou muito baixinho:
— Morrer não quero, não sinhô… Eu fico.
E seus olhos enevoados numa profunda melancolia se estenderam pelo plano aberto dos pastos, foram dizer um adeus à cidade invisível, lá longe(...)".

A edição de "Será o Benedito!", de Mário de Andrade, da Cosac Naify, infelizmente, é coisa rara hoje em dia. Faz parte da coleção "Dedinho de prosa". Um dos mais belos livros ilustrados que eu tenho e o que mais me emociona. Como se já não bastasse a história cativante e tristérrima do Mário de Andrade, as aquarelas super manchadas do Odilon Moraes são daquelas que a gente quer degustar, ficar olhando, babando (como é que esse cara consegue fazer isso?) Uma obra de arte. Redonda.

Li para o Guilherme uma noite dessas. Ele estranhou um pouco as manchas das ilustras no começo, mas logo embarcou. Simpatizou com o Benedito, com o moço da cidade, achou graça na expressão "será o Benedito!" fez comentários durante toda a leitura. No fim, a fatalidade o calou. Observamos a última ilustração em silêncio e eu disse: "triste, né?" Ele respondeu com a voz trêmula: "sim, dá até vontade de chorar." Então eu lhe mostrei meus olhos cheios d'água. 

Benedito desistiu do sonho de conhecer a cidade por temer a tuberculose. Mas será que o campo era mesmo mais seguro? O desfecho dessa história remói por dentro. Que ironia. Viver é assim.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Sofia e o dente de leite


"O avô de Sofia disse
que se não fosse arrancado
ficaria em cima do novo,
assim, meio encavalado.
Sem dente, o Vô se lembrou
da forma que achava certa:
amarrar na maçaneta,
e quando a porta fosse aberta...
o dente pulava longe!
Sofia tremeu todinha
e preferiu ela mesma
tentar laçar com uma linha."

Quando me apresentaram esse livro, vi que seria perfeito pra ler com o Gui, que começou a perder os dentinhos de leite há pouco tempo. Neste momento, um incisivo central da arcada superior está em contagem regressiva, "malemodente".

Então peguei emprestado "Sofia e o dente de leite", do Henrique Rodrigues, com ilustrações da Bruna Assis Brasil, editora Memória Visual, e lemos ontem. Uma pena que esteja esgotado. Vou ver se encontro na Estante Virtual.

O livro, todo em verso, fala das dúvidas de Sofia sobre o dente que está mole e doído. Ela sofre imaginando como e quando ele vai cair, a mãe e o melhor amigo tentam amenizar sua angústia, lembrando da fada do dente e das vantagens de ter um sorriso com janelinha.

Nas ilustrações, as colagens com fotografias de dentes adultos (e a falta deles) são bizarras e, ao mesmo tempo, engraçadíssimas.

Guilherme gargalhou ao se deparar com o buraco no sorrisão do amigo da Sofia. Tenho a impressão de que ele está torcendo pra ter um igual.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Lino


"Naquela manhã Lino acordou triste. Lua havia desaparecido da loja de brinquedos. Lua era uma coelhinha branca, com uma luz que acendia na barriga toda vez que ela dava risadas."

Já passava da hora de dormir, eu estava com sono, mas, se não rolar história, o tempo fecha. Tudo bem. Peguei um livro de texto curtinho. Lemos "Lino", escrito e ilustrado pelo André Neves, editora Paulinas, pela sétima ou oitava vez. Fazia tempo que não pegávamos.

De quando em quando preciso rearranjar nossa coleção de livros infantis pra enxergar as preciosidades que temos. "Lino" é um livro de poucas palavras, com imagens belíssimas, cheias de personalidade, cores, texturas. Verdadeiros presentes para os olhos no traço inconfundível do André Neves.

Os personagens Lino e Lua são brinquedos muito amigos que se separam por razão inevitável. Lino se entristece até conhecer Estrela, a menina alegre que traz de volta o brilho da Lua pra sua vida.

Por falar em amizade e saudade, feliz dia do amigo!

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Capitão-Cueca e O Homem-Cão


Gente, não costumo falar de livros infantis de autores estrangeiros porque acho que eles já são bem divulgados por aí, mas hoje preciso falar dessas duas coleções que têm grande valor porque fortalecem o vínculo do meu filhote com os livros e a leitura. "Capitão-Cueca" e "O Homem-Cão". Ambas de Dav Pilkey, nova edição em cores da Companhia das Letrinhas.

Não vou citar trechos das histórias desta vez porque não vale a pena. É um besteirol danado (e que criança não gosta disso?). Mas outro dia mostrei ao Gui que ia ter uma live com uma contadora de histórias na qual seria lido o novo livro do Homem-Cão. O número 6. Ele ficou animadíssimo. "Já saiu o novo?! Oba!" Então me perguntou se eu não podia ver se já tinha na livraria, pois ele preferia que lêssemos o livro juntos.

Já comprei o livro, claro, e estamos aguardando ansiosos sua chegada.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Adivinhe quem vem para assustar


"A Cuca contou que, uma noite, teve uma vontade danada de assustar menino. Pois foi.
Viu uma casa e, disfarçadamente, meteu a cara na janela. Lá dentro havia um garoto de olho vidrado numa caixa de onde saía uma luz colorida.
'É agora que faço ele pular de susto!', pensou a Cuca.
E deu um berro na janela.
O menino nem se virou. Levou o dedo indicador à boca:
- Ssshhh! - Fez, pedindo silêncio.
A Cuca não entendeu.
- Mas você não se assustou?
- Quer ficar quietinha, que eu tô assistindo televisão?"

Nós vemos tanta coisa horripilante por aí, que acabamos acostumados, anestesiados. Precisamos de estímulos cada vez mais fortes para que algo realmente nos espante.

"Adivinhe quem vem para assustar", do Maurício Veneza, ilustrado pelo Angelo Abu, editora Formato, fala sobre a frustração das lendas, que se apavoram e se arrepiam com as histórias do bicho-gente, "um ser poderoso que ameaça o mundo em que vive".

Livro divertido, mas que também dá uma boa chacoalhada no leitor e o põe pra pensar. Será que o saci, o curupira, a cuca, o boitatá estão com os dias contados?

As lendas do folclore brasileiro são um prato cheio pra mexer com o imaginário das crianças. E dos adultos também. Aqui em casa elas têm um fã e são muito respeitadas, sim, senhor! Cuidado com a cuca, que a cuca te pega!

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Leituras Peraltas: Rabiscos pra começar


Hoje a dica de leitura é em forma de vídeo!

Depois de muito planejar e ponderar, resolvi parar de me esconder e colocar a cara na janela. Ou melhor, no Youtube. Criei o canal Leituras Peraltas pra falar sobre meu tema predileto: Literatura. No caso, mais especificamente sobre a brasileira voltada para a infância.

Serão dez vídeos, publicados mensalmente, com a apresentação de um livro e uma arte ligada à história. Bateu curiosidade? Assista ao vídeo. Foi preparado com muito cuidado e carinho. Se achar legal, curta, compartilhe e se inscreva no canal. Vou amar dividir minhas experiências de Leituras Peraltas com vocês!

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Só um minutinho


"Porquinho, Porquinho, você já está de pé?
- Só um minutinho! Meu corpo não quer.
- Arrumou seu quarto, Porquinho? Mas que demora!
- Só um minutinho! Falta pouco agora."

Digo ao Gui que esse é o livro sobre a vida dele. "Só um minutinho", escrito e ilustrado pelo Ivan Zigg, publicado pela Nova Fronteira, mostra um diálogo bem comum entre pais e filhos. São repetições e mais repetições até o cumprimento das tarefas. O Porquinho, protagonista da história, é o mestre da embromação e meu filhote se diverte com a identificação que rola desde o início da leitura.

O livro é bem curtinho, rimado e todo em letra bastão. Perfeito para os pequenos que estão começando a ler sozinhos. As ilustrações do Ivan Zigg, bem coloridas, maluquetes e com detalhes que contam além do que está escrito, enriquecem a dinâmica da leitura.

Há apenas um porém, na opinião do Guilherme, sobre "Só um minutinho". Ele diz que acaba muito rápido e me faz prometer ler mais uma história. Olha aí o mestre da enrolação tentando alongar a conversa pra não dormir... Daí vão mais muitos minutinhos, mas tudo bem. Ganhamos os dois. Quando o assunto é leitura, a pressa não tem vez.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Drufs


"Família Suflê

Meu nome é Bijuéli Pristila, mas todos me chamam de Biju.

Um dos meus pais se chama Nic Suflê. Ele é estrangeiro. Ele nasceu em Fritemburgo e tem sotaque. Diz JOGOLÁD em vez de chocolate, GAFÉ em vez de café. Quando eu imito a fala dele, todo mundo cai na risada.

Meu pai tem um restaurante de comida fritemburguesa. Ele é um chefe de cozinha famoso, mas quem faz comida aqui em casa é o meu outro pai, o Croassan.

Quando eu crescer, quero ser chefe de cozinha. Já sei fritar ovo e enrolar brigadeiro. Outro dia, fiz um sorvete de fristache. Meu pai Nic experimentou, cuspiu e gritou: -EGA! O GUÊ VOZÊ BÔZ AGUÍ? ESDÁ COM GOSDO DE ZABONETE!"

Ontem a barriga doeu de tanto rir na nossa hora da leitura. Gui e eu tivemos vários ataques de gargalhada com os "Drufs", da Eva Furnari, publicado pela Editora Moderna. Essa última fala do Nic Suflê quase não saiu por causa das risadas. Adoramos os Drufs, "seres parecidos com a gente, só que menores".

A professora Rubi pede a seus alunos que façam fotos de suas famílias e escrevam sobre elas algumas "coisinhas", valendo inventar! A tarefa é realizada por 16 alunos cujos nomes já são uma piada.

As famílias descritas são totalmente diferentes umas das outras. Tem aluno com dois pais, com duas mães, famílias enormes, que incluem tias, tios, avós, a prima do interior, bichos de estimação, o namorado da mãe, a nova esposa do pai e os filhos dos novos relacionamentos... Tudo com ilustrações hilárias à base das fotografias de Natalia Alavarce, com os dedos pintados e ornados pela maravilhosa Eva Furnari.

O projeto gráfico, da Claudia Furnari, é outro ponto fortíssimo do livro. A disposição das fotos, desenhos, bilhetes, as letras dos alunos. Um trabalho redondo. Quem curte literatura infantil e não conhece Drufs, precisa conhecer.

Fiquei impressionada com nosso acesso de risos lendo esse livro. Com o meu, especificamente. Gui tem 6 anos. Passamos um bom tempo só rindo do nome "Grebs"! É... espero que essa bobeira gostosa nunca me largue.

domingo, 28 de junho de 2020

Siga a seta!


"Um dia, um rapaz que vivia na Cidade das Setas começou a ter um pensamento esquisito. Um pensamento que não vinha indicado em nenhuma seta. O pensamento do rapaz segredava-lhe assim lá por dentro: o que haverá no espaço entre as setas?

Primeiro, o rapaz tentou pensar noutra coisa... distrair-se. Mas não era fácil distrair-se numa cidade como a sua, com setas nas paredes, no chão, no teto, em cada lugar onde punha a mão ou o pé.
Então, uma tarde, quando voltava para casa, o rapaz aventurou-se."

Ontem foi dia de Clube Quindim. Gui chegou no quarto dele de manhã e se deparou com seu nome num embrulho sobre a cama. Que alegria!

Esse foi nosso primeiro mês de assinatura. Demorou pra chegar por conta da situação atual, mas a surpresa valeu a pena. Meu filhote adorou "receber uma encomenda".

Os livros vêm acompanhados de um mapa de leitura (uma espécie de orientação aos adultos mediadores da leitura) e um diário do leitor ("esse foi o que eu mais amei, mamãe!"). Nesse último a criança coloca seu nome, faz um autorretrato e vai registrando suas impressões das leituras a cada mês. Uma graça.

Lemos os dois livros ontem à noite, mas vou falar aqui daquele que nós mais gostamos. "Siga a seta!", de Isabel Minhós Martins, ilustrado por Andrés Sandoval, publicado pela Companhia das Letrinhas.

Assim que pegamos pra ler, o Gui estranhou. "Nossa, quanta seta! Que confusão! Parece um labirinto." A ideia do livro parece ser mostrar ao leitor que, de vez em quando, vale a pena questionar nossas rotinas, os rumos que tomamos de forma automática, a fim de viver novas experiências, descobrir.

Mas o comentário do meu pequeno me fez refletir noutra direção. Aquele monte de informação que compõe as imagens labirínticas do livro, com verbos no imperativo, a mim parecem as incontáveis propagandas às quais somos expostos constantemente, em todos os lugares.

Lembram-me também a confusão de pensamentos numa cabeça ansiosa (acho que se minhas ideias fossem fotografadas, o resultado seria bem próximo das ilustrações desse livro). Viajei? Sei não. Acho que só peguei o caminho entre as setas.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

No meio do caminho tem uma porta


"Não aguento mais. Lá vem ela de novo. Aposto que vai falar a mesma coisa: 'Filho, abre essa porta! Quero te dar um beijo de boa noite!' Que coisa mais chata. Pra que tanto beijo? Ela pensa o quê? Que ainda sou um bebezinho pra botar na cama e ficar dando beijinho de boa-noite?"

Esta semana eles voltaram! Sim, meus óculos também, mas no dia seguinte chegou da livraria esse meu livro que emprestei pra alguém e não voltou mais. É tão bom, que fingiram esquecimento. Tudo bem. Fácil de resolver. Acho que a Anna Claudia Ramos ganhou mais um fã. Mas Anna, quero seu autógrafo de novo, tá? ;)

Sempre fui sensível, de chorar por qualquer coisa. Uma cena, um quadro, um cheiro, uma música. Mas depois que o Gui nasceu, eu virei uma maria-chorona quando o assunto é maternidade. As alegrias e os apertos.
"No meio do caminho tem uma porta", da Anna Claudia Ramos, Edições Besouro Box, é um juvenil fantástico. Durante a leitura eu ri, chorei, ri e chorei ao mesmo tempo... Resultado: amei o livro e, toda vez que alguém me pede uma indicação de juvenil, esse está no topo da lista.
Morro de medo da adolescência (do meu filho, claro, mas ainda falta um bocadinho). A criança que não é mais criança e quer provar isso aos pais e ao mundo. "No meio do caminho tem uma porta" é composto de seis contos que ilustram bem essa fase de explosões. Um livro divertidíssimo e tocante. Recomendo para adolescentes e pais que passam, passaram ou ainda passarão, com seus filhos, por essa fase que mais parece um teste de paciência e persistência na vida.

"No dia seguinte, encontrei a porta fechada e a famosa frase: 'Tô ocupado, mãe!' Mas não liguei, não. Dei meu boa-noite e fui dormir. Por enquanto, no meio do caminho tem uma porta. Mas as portas abrem e fecham. Não é pra isso que elas servem? Pra abrir e fechar?"

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Conversê


"- João?
- Hm?
- Você tá dormindo?
- N-n-não.
- Quê que é conversê?
(...)
-João?
-Hm.
- Quê que é 'fiada'?
- Sei lá, Zeca.
- É que a vizinha falou pra mãe que alguma coisa era conversa fiada.
- Ah, é a mesma coisa que papo furado.
- Tem nada a ver com fio, não?
- ?
- É que a vó disse que antes os telefones tinham fio.
- ?
- Eu achei que conversa fiada era conversa antiga pelo telefone.
- Chega de conversê, vamos dormir."

Ah, a hora de dormir! Que momento tão bom pra jogar conversa fora, não? O Gui adora puxar assunto assim que apago a luz e peço a ele pra fechar os olhos pra dormir. E, quando eu penso que ele embarcou no sono, lá vem uma pergunta de dar nó nas ideias. "Caramba, de onde ele tirou essa agora?" Algumas vezes, levo um tempo pra me situar e responder. Outras, ele precisa me chamar de novo, porque, bem diferente dele, caio no sono fácil, fácil.

Deve ser por isso que ele se identificou tanto com o Zeca, quando lemos "Conversê", do Luiz Raul Machado, ilustrado pela Marilda Castanha, publicado pela Galerinha, do Grupo Record. Quando me deparei com esse livro lá no salão da FNLIJ, achei o máximo e o trouxe pra nossa coleção. Não só pelo texto cheio de humor e brincadeiras com o Português do Luiz Raul, mas também pelo belo trabalho de projeto gráfico + ilustrações da Marilda Castanha. No entanto, eu não esperava que ele fosse fazer o Gui rir tanto. Cada vez que o Zeca chamava o irmão mais velho: "João?" era mais um "KKKKKKKKK". O maior barato!

Ontem a hora de dormir foi assim. Cheia de conversê. O livro foi lido duas vezes seguidas. Fora o conversê de sempre que veio depois.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Monstros do cinema


Meu dia começou bem hoje! Estava preparando o café da manhã e estranhei o silêncio da casa. Quando Gui está comigo, normalmente tem cantoria no ar, narração da aventura de algum herói, sonoplastia de lutas e por aí vai. Então, fui de fininho até o quarto dele e me deparei com meu filho entretido, folheando um livro sozinho. Que emoção... Ultimamente ele tem preferido os jogos e a tv. Isso tem me causado uma certa angústia. Pedi pra tirar uma foto e ele posou com o livro, criando o Guícula!

"Montros do cinema", de Augusto Massi e Daniel Kondo, publicado pela SESI-SP Editora, é um livro-brinquedo que apresenta onze monstros divididos em três partes. Nele podemos, por exemplo, combinar a cabeça da Múmia, com o tronco do Lobisomem e as pernas do Drácula, criando a Músola!

Para crianças que estão começando a ler, essa brincadeira com as sílabas é perfeita. E, no fim do livro, tem informações históricas sobre esses monstros e os filmes que protagonizam. A gente se diverte junto com as crianças. Bem que o Drácula diz, na capa, que o livro é pra toda a família.

terça-feira, 23 de junho de 2020

A fome do lobo


"Naquela manhã o lobo acordou com fome, com muita fome. Espreguiçou-se e saiu pela floresta determinado a devorar o primeiro que aparecesse na sua frente."

"A fome do lobo", da Cláudia Maria de Vasconcellos, ilustrado pelo maravilhoso Odilon Moraes e publicado pela editora Iluminuras, foi nossa leitura de ontem. É um livro bem gostoso de ler, com aquarelas lindíssimas. Quem conhece e gosta do "Grúfalo" e de histórias com lobo, como "Chapeuzinho Vermelho" e "Os três porquinhos" vai se encantar.

A história é do tipo lenga-lenga, vai se repetindo a cada novo personagem (enquanto a impaciência e a fome do lobo crescem). Em seu caminho, ele encontra vários bichos: rato, porco-espinho, jabuti, sapo, touro... Mas todos o convencem, com um bom argumento, de que não será um bom negócio devorá-los. Até que ele chega à cidade, entra pelo primeiro portão que encontra aberto e bate à porta. Que surpresa legal! Não dá pra contar mais. Vale a leitura, de preferência com um pequeno do lado.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

O rapaz que se casou com uma sapa


"- Você quer passar para o outro lado, não é, bonitão?
Ele gaguejou, mas respondeu:
- Sim, mas do jeito que está, só a nado.
(...)
- Se você quiser, eu carrego você. Mas tem uma condição. (...) você promete que casa comigo depois?
Mangando da sapa, o rapaz prometeu na mesma hora. Casar com uma sapa, já se viu? Ele não acreditava em feitiço. Ela o atravessaria e ele iria direto para a casa da namorada. Na volta daria um jeito, que enganar uma sapa ia ser muito fácil!, ele pensou."

No livro "O rapaz que se casou com uma sapa", da Cristina Villaça, com as ilustrações cheias de humor da Graça Lima e publicado pela Escrita Fina, a sapa é quem se apaixona pelo "príncipe". Um conto de fadas invertido em que o moço se acha muito esperto, enganando a pobre sapa pra se dar bem. Mas a sapa não é boba, não, senhor!
Foi um barato ver os olhinhos de espanto do Gui ao perceber cada vitória da sapa na luta pelo seu prometido. Ele não sabia se ria ou se ficava preocupado pelo rapaz. "Mas como ele vai casar com uma sapa, mamãe? Não dá! Que nojo!" Daí foi o gancho pra lembrar a ele que, quando a gente promete uma coisa, tem que cumprir. "Quem mandou ele prometer?"

O título do livro já adianta o final, mas a graça está justamente no desespero do moço ao se dar conta, pouco a pouco, de que traçou seu destino no momento em que tentou se aproveitar da boa vontade da sapa apaixonada.

domingo, 21 de junho de 2020

Três desejos para o Sr. Pug


"Que dia péssimo para o sr. Pug. Já começou pela metade, com jornal molhado, sem comida e sem café! Tão péssimo que o sr. Pug desejou não ter se levantado. Então surgiu uma fada."

"Três desejos para o sr. Pug", escrito e ilustrado por Sebastian Meschenmoser, traduzido por Julia Bussius, publicado pela Companhia das Letrinhas, foi um dos livros que lemos ontem à noite. É hilário! As caretas do sr. Pug são impagáveis e, pra quem gosta de pugs ou tem um em casa, fica ainda mais divertido. Gui gargalhou e quis mostrar pra Maroca, que também gargalhou! Hehehehe! Tá, essa parte foi por conta da nossa imaginação.

Na história, uma fadinha espevitada quer desamarrar a cara do Sr. Pug realizando-lhe três desejos. Sugere várias coisas alegres e coloridas (algumas esdrúxulas) para animá-lo, mas, percebemos que, assim como Maroca, ele não quer muito da vida além de comida e sossego.

sábado, 20 de junho de 2020

O monstro monstruoso da caverna cavernosa


"O Monstro torceu os seus dois narizes e cruzou os seus quatro braços.
- Ora bolas, devorar princesas! Elas têm um gosto horrível! Por que não me deixam tomar sorvetes em paz? Ora bolas, bolas, bolas...
Monstro Monstruoso não queria ser expulso da Associação. Toda a sua família Monstruosa era sócia! Mamãe Monstra não ia gostar nem um pouco se viesse a saber... E ela ficaria sabendo! Os monstros, além de serem... bem... monstruosos e de gostarem muito de assustar as pessoas, adoram uma fofoca."

Nossa leitura de ontem foi "O monstro monstruoso da caverna cavernosa", da Rosana Rios, ilustrado pelo André Neves, publicado pela DCL. Guilherme o puxou da estante, dizendo: "esse parece assustador!" Monstros são um sucesso com as crianças. O Gui ama. Só que o Monstruoso não é assim tão assustador. É bonzinho e engraçado. Demos boas risadas lendo a história. E as inconfundíveis ilustras do André Neves a tornam ainda mais atraente e inusitada.

Precisamos mesmo ceder à pressão de ser o que os outros esperam de nós? E se nossa essência for outra? Será que não vale a pena correr o risco de decepcioná-los pra fazer o que nos dá prazer? O Monstro Monstruoso deu seu jeito.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Outra vez os três porquinhos


"- Que foi que lhe aconteceu? - indagou Linguicinha.
- Pois eu perdi o sono e não há maneira de achá-lo.
- Que jeito tem o seu sono? - perguntou Salsicha.
Vaca Fria respondeu:
- Meu sono é um bicho preto e peludo, que ronca.
- Então nós vamos ajudar a senhora a procurar o seu sono! - declarou Sabugo.
Saíram os três e mais a Vaca Fria em busca do sono perdido. Procuraram nos quintais, nas praças, dentro das latas de lixo, nas sarjetas... Nada."

Na leitura de ontem à noite, eu me identifiquei com a Vaca Fria. Lemos "Outra vez os três porquinhos", do Érico Veríssimo, com ilustrações da Eva Furnari, publicado pela Companhia das Letrinhas. Do pacote de livros novos, foi o escolhido do Gui, mesmo ciente de que se tratava de uma continuação. O início da história está no livro "Os três porquinhos pobres", que também veio no pacote, mas não tem na capa os porquinhos vestidos de mosqueteiros, com uma espada apontada pro céu e um quarto elemento misterioso liderando o grupo...

"Outra vez os três porquinhos" não é dos melhores infantis do Érico Veríssimo na minha opinião, mas tem a participação especial do Elefante Basílio (que eu adoro!) e umas passagens bem divertidas, como a da Vaca Fria.

A propósito, alguém viu meu sono por aí?

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Quanto tempo!


É... faz tempo. Um ano, precisamente. No segundo semestre do ano passado, meus dias foram de descoberta. Não produzi muito na área literária. Pesquisei pra caramba e participei, sim, de eventos, mas como ouvinte. Uma pausa que me fez bem, para repensar meu rumo e talvez me reinventar.

Este ano de 2020 começou devagar quase parando para mim, assim como a segunda parte do ano passado, em matéria de produção literária. Com o início da quarentena, então, parou de vez. De qualquer forma, apesar de não estar escrevendo nem desenhando muito coisas minhas, continuo na velha rotina de ler para meu filhote todas as noites. São essas leituras que eu tenho indicado nas redes sociais nos últimos dias, sempre comentando minha impressão sobre cada livro. Além disso, tem minhas artes pós-leitura, que também pretendo compartilhar de alguma forma. Veremos.

Devagar e sempre.
Até breve.